Tessa West e Katherine Thorson, psicólogas e cientistas da New York University, conduziram recentemente um estudo que rastreava os batimentos cardíacos e o cérebro das pessoas durante negociações simuladas. Ao final de cada negociação, alguns grupos foram instruídos a pedir feedback, enquanto outros a dar feedback.
Os resultados mostram que tanto dar como receber feedback geram o mesmo nível de ansiedade, no entanto, quando as pessoas recebem feedbacks que não foram solicitados, as frequências cardíacas oscilam de forma muito irregular, com picos equivalentes a eventos muito estressantes. Em outras palavras, quando recebemos um feedback sem que o tenhamos solicitado, nosso cérebro entra em modo de “resposta à ameaça”, fazendo com que haja um declínio da função cognitiva e um estreitamento dos sentidos, limitando, consequentemente, a capacidade de pensar e aprender.
Uma das coisas mais comuns no cotidiano corporativo são conversas de feedback conduzidas por líderes que, de tão cuidadosos, educados e indiretos, acabam deixando as pessoas em dúvida se essa conversa tem o objetivo de ajuda-las a corrigir algo que não estão fazendo bem ou se estão sendo elogiadas. São conversas agradáveis, em que provavelmente o cérebro das pessoas não entra em modo de “resposta à ameaça”, mas totalmente infrutíferas. De outro lado também vemos líderes que são tão diretos na comunicação, que levam imediatamente as pessoas à um estado de defesa e sobrevivência. E o problema é que ambas não passam de conversas inúteis.
Pois bem, mas como então lidar com o paradoxo de que, segundo a pesquisa, o cérebro entende um feedback como ameaça, enquanto todos nós também sabemos que o feedback é uma das principais ferramentas de liderança, desenvolvimento e construção de relações de confiança? Como estabelecer conversas de feedback que ao invés de produzir uma resposta à ameaça, ativem os circuitos de recompensa do cérebro, produzindo dopamina e maior abertura ao aprendizado?
Por incrível que pareça, o que este e outros estudos revelam é que a melhor saída está em não dar feedbacks, mas pedi-los! Os neurocientistas constataram que o ato de pedir feedback ajuda a manter a conversa num tom menos doloroso e ameaçador. O mapeamento do cérebro e dos batimentos cardíacos mostra que nas conversas em que as pessoas pedem feedback, existe um sentimento de maior controle da situação que aumenta a sensação de autonomia e certeza, e ativa as áreas de recompensa do cérebro. Dessa forma as pessoas conseguem orientar melhor a conversa e sentir-se mais confiantes sobre os tópicos que serão discutidos. As pesquisas mostram ainda que, neste contexto, as pessoas que estão dando feedback também se sentem mais seguras pra falar o que precisa ser dito, por não precisarem adivinhar que tipo de informação será mais útil ao interlocutor, tornando o feedback mais honesto e assertivo. Conclusão: Pedir feedback, em vez de oferece-lo espontaneamente, pode ser a forma mais inteligente de desenvolver uma cultura orientada para o crescimento e desenvolvimento das pessoas.
E como em toda mudança de comportamento, é importante que “comecemos devagar”, um passo de cada vez, e pelo exemplo; o melhor jeito, portanto, é que o líder dê os primeiros passos pedindo feedback para as pessoas, inicialmente sobre coisas simples como a condução e o resultado de uma reunião e, gradualmente, vá aumentando a dose. É muito importante que os feedbacks produzidos nessas conversas resultem em mudanças positivas no comportamento do líder. Dessa forma, com o tempo, as pessoas se sentirão mais seguras para também pedir feedbacks ao perceberem, pelo exemplo de seu líder, que o resultado das conversas é produtivo e transformador, ao invés de ameaçador.
Aos poucos, as conversas de feedback tendem a ser mais regulares e naturais, as relações de confiança se consolidam, as pessoas se desenvolvam mais rapidamente, o clima organizacional fica mais leve, e os resultados melhoram. Vale a pena, não vale?
Então, peça feedbacks!
Aproveitando a oportunidade, gostaria de pedir sua ajuda em responder um questionário sobre “Liderança e Confiança”, que será utilizado em meu novo livro sobre o tema. São apenas 5 minutos. Basta clicar no link a seguir. Desde já, muito obrigado!
Link para a pesquisa: https://pt.surveymonkey.com/r/confianca-link
Um Grande Abraço,
Marco Fabossi
Leia também:
Feedbacks são Degraus (Liderança)
Livro Coração de Líder
A Essência do Líder-Coach
3a Edição – Revisada e Ampliada
Também em Áudiolivro
Fabossi, ótimo artigo e uma grande novidade sobre o feedback, pois os modelos anteriores são dados na maioria das vezes pelos líderes como uma forma de pedir “prestação de contas, compromissos ou aqueles famosos elogios”.
Abraços,
Marcionílio
Excelente artigo, Marco. Já havia observado essa tensão no Cliente – quando ligava antes do retorno. Obrigada pelas dicas. Um abraço, Dinete
Excelente explanação. Irei utilizar esta técnica no meu setor.