O maior sonho de Paul Galvin, fundador da Motorola, uma das mais bem-sucedidas empresas de tecnologia da história, era criar uma empresa excepcional e duradoura. Por isso ele encorajava divergências e discussões, dando às pessoas a oportunidade de mostrar o que elas podiam fazer sozinhos. O biógrafo de Galvin escreveu: “Ele não era um inventor, mas um criador que tinha nas pessoas o seu projeto“. Desde cedo Galvin teve uma forte preocupação por sua sucessão. Ele dizia não ter medo da morte, mas temia que a Motorola pudesse morrer sem um sucessor preparado.
Ao contrário, o fundador da Zenith, Comandante Eugene E McDonald Jr, não tinha qualquer plano de sucessão, deixando a empresa destituída de talentos após sua morte inesperada em 1958. McDonald era um líder altamente carismático que levou a empresa para frente basicamente através da força da sua grande personalidade. Dois anos após sua morte, a revista Fortune comentou: “…o futuro da Zenith depende da sua capacidade e de um novo impulso para se adaptar às condições que McDonald não previu”; e um concorrente disse: “Com o passar do tempo, a Zenith sentirá cada vez mais a falta de McDonald”.
Galvin e McDonald morreram mais ou menos na mesma época. A Motorola, por meio dos sucessores de Galvin, incluindo seu filho Bob Galvin, um líder reconhecido mundialmente, obteve sucesso em áreas nunca sonhadas pelo patriarca; já a Zenith perdeu força e, até hoje, não recuperou a energia e a centelha inovadora da época de McDonald.
Um futuro melhor, mais digno e sustentável só acontecerá se os líderes de hoje estiverem comprometidos com a formação dos líderes de amanhã. Por isso, o legado de um líder não é determinado pelos bens que deixou, pelas organizações que liderou, pelos recordes que estabeleceu ou pelos produtos que desenvolveu; o verdadeiro legado de um líder se reflete nas vidas que influenciou e nos líderes que formou.
Uma liderança sem reprodução é também uma liderança sem propósito, sem vida e sem futuro, e que apenas gera equipes dependentes e fracas, comprometendo o próprio trabalho e a continuidade da organização. Por isso, organizações que não incentivam que seus líderes formem novos líderes, e que têm seu modelo de gestão e liderança baseado na instituição personificada, centralizando suas ações, projetos e parcerias nas mãos de um ou poucos líderes, tornam-se organizações vulneráveis e sem sustentabilidade, e com enormes probabilidades de perder o que têm de mais valioso: seu capital humano e intelectual.
A formação de novos líderes, portanto, além de ser uma das principais responsabilidades de um líder, é também, e principalmente, o seu melhor termômetro de sucesso, porque em liderança não existe sucesso sem sucessão.
Perceba que eu não falo sobre “instruir” líderes, mas “formá-los”, porque a instrução assume responsabilidade, mas atinge apenas o “fazer”, enquanto a formação tem o poder de tocar o “ser”, o coração, evocando compromisso e envolvimento com a vida daqueles que estão sendo formados. A instrução visa ensinar as pessoas, já a formação busca ajuda-las a aprender; o que é muito diferente. Para instruir, basta compartilhar conhecimento, ainda que você não acredite ou pratique aquilo que esta compartilhando. Para formar, contudo, é preciso caminhar junto, colocar os braços ao redor, ser exemplo, compartilhar valores, sentimentos, paixões, frustrações, fortalezas, fraquezas, conhecimento e sabedoria, e pra isso é preciso vontade, tempo e dedicação.
O líder, portanto, deve atuar como um técnico, criando um ambiente de aprendizado contínuo, provendo feedbacks constantes, onde o principal objetivo é que as pessoas aprendam, evoluam e expandam sua capacidade de pensamento, ação e realização, para que possam conquistar os melhores resultados por si mesmas, afinal, quem faz o resultado do jogo são os atletas, e não o técnico.
Em resumo, como disse Useen, “Liderar não significa apenas ter seguidores, mas saber quantos líderes se conseguiu formar entre esses seguidores”. E você, quão bem-sucedida tem sido a sua liderança? Desculpe, permita-me reformular a pergunta: Quantos líderes você tem formado em sua jornada de liderança? Quem são os seus sucessores? Lembre-se, em liderança não existe sucesso sem sucessão!
Um Grande Abraço
Marco Fabossi
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Adorei o texto de hoje. Inspirador!
Valeu Pucca. Sua opinião é muito importante pra mim! Bj
Fabossi… Muitas vezes fico desanimado… Nunca gostei de andar sozinho! Sempre tive e tenho a necessidade de estar com alguém… o ser humano, o companheirismo, a amizade e o incentivo me são muito importantes! Mas sempre que abraço alguém e ponho para caminhar comigo, procuro inspirar, motivar e encorajar, preparando para me substituir… Sou surpreendido pelo abandono! Parece-me que falta paciência para esperar o momento de me substituir… O que fazer? O fato é que nunca desisti e não desistirei… Pois verdadeiramente acredito no que o texto diz e por isso pretendo deixar sucessores… Um grande abraço e obrigado pelos textos tão cristalinos e exclarecedores!
Concordo plenamente com este post. Lembro-me de uma frase contida no livro “Jack – Straight from the gut”, onde Jack Welsch diz que no primeiro dia que tomou posse da presiência da GE, ele já havia vislumbrado quem poderia substituí-lo naquele momento em diante.
Isso é ter uma “visão de águia”, enxergar além dos horizontes meramente limitados das funções e atividades, e sim, saber que a sua abordagem pode ser comunicada não através de modelos como numa aula na escola, mas com exemplos reais e vívidos dos desafios corporativos que se experencia a cada dia.