Quando eu era assistente social numa clínica psiquiátrica de Nova York, me pediram que recebesse Roz, uma moça de 20 anos que havia chegado de outra instituição. Eu não tinha qualquer informação sobre ela, e disseram pra eu “me virar” e descobrir quais eram os seus problemas e do que necessitava.
Depois de conversar com Roz, classifiquei-a como uma jovem infeliz e com uma situação familiar muito desagradável. Eu não a via como uma pessoa perturbada, mas solitária e incompreendida. Esforcei-me para ajuda-la a começar uma “nova vida”, buscando um emprego e um bom lugar para viver e que buscasse fazer novas amizades, e em pouco tempo ela iniciou importantes mudanças em sua vida.
Os relatórios das instituições psiquiátricas anteriores chegaram um mês depois que havíamos começado a trabalhar juntas. Para minha surpresa, eles descreviam várias internações psiquiátricas, com diagnóstico de “esquizofrenia paranoica”, e um comentário dizendo que ela era “um caso perdido”. Decidi esquecer essa papelada.
Primeiro Roz encontrou um emprego, depois um lugar para morar. Alguns meses mais tarde ela me apresentou ao seu futuro marido, um empresário bem-sucedido que a adorava.
Quando terminou a terapia, Roz presenteou-me com um marcador de livros de prata e um bilhete que dizia: “Obrigada por acreditar em mim”.
Judy Tatelbaum, adaptado do livro Espírito de Cooperação no Trabalho
Uma das mais recentes e impactantes descobertas de neurociência é que, para o cérebro, a dor social e a dor física significam a mesma coisa, ou seja, um tapa na cara dói tanto quanto a rejeição, a exclusão, a humilhação, a falta de atenção, a injustiça, o descaso, ou qualquer outra forma de “dor social”.
Talvez isso ajude a explicar porque a depressão e outros transtornos ansiosos figuram entre as quatro causas de afastamento do trabalho, segundo dados de 2013 do INSS, e as estimativas da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que a depressão será a doença mais comum no mundo na próxima década, ultrapassando moléstias cardiovasculares e câncer.
Infelizmente, muitos líderes ainda não perceberam que estão contribuindo para que essa triste realidade se amplifique no presente, e se cumpra no futuro.
Seres humanos, incluindo você e eu, esperam por atenção e cuidado. Desde o nascimento as pessoas têm alguém cuidando delas. No início os pais e a família, depois os professores e os amigos e, quando passam a fazer parte de uma organização e esse cuidado desaparece, com o tempo elas aumentam as estatísticas dos “doentes sociais”.
Mas como reverter esse quadro? Simples: Tratando as pessoas como pessoas, e não como meros instrumentos, máquinas ou recursos que produzem resultados para a organização. Olhando para as pessoas como seres humanos, escutando-as, esclarecendo expectativas, dedicando tempo a elas, reconhecendo-as, buscando entender e atender suas reais necessidades, sendo justo, acreditando que elas podem se tornar pessoas e profissionais melhores, desde que tenham o seu apoio e atenção.
Você tem dificuldade com alguma pessoa? Experimente aproximar-se dela e demonstrar genuíno interesse em compreender suas expectativas e necessidades, ajude-a no que for possível, apoie-a, seja sincero, dedique tempo a ela, e então observe o resultado. Você perceberá que não existem “casos perdidos”, mas apenas “pessoas que ainda não se encontraram”, e que precisam de sua ajuda para que isso aconteça. Ainda que, juntos, vocês cheguem a conclusão de que ela está no lugar errado, o seu interesse, respeito e atenção contribuirão para que ela esteja mais segura, melhor preparada e “socialmente curada” para buscar novas oportunidades.
Se apenas fizermos a nossa parte, evitaremos que as estimativas da OMS se concretizem. E então, vamos virar este jogo?
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Um grande abraço,
Marco Fabossi
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Muito bom Fabossi. Um lembrete pra mim e um ensinamento para nossos dias. Parabéns pela coragem de escrever sobre esse tema.
Abraço,
Claudinei
Um dos melhores textos dos últimos tempos. … Parabéns e muito obrigado!
Texto para refletirmos o quanto temos que ir além dos estigmas sociais, levando em consideração o homem como ser em movimento, passível de desenvolvimento, e não estagnado e eternamente paralisado.
Excelente texto. Eu mesmo fiquei afastado do trabalho por um tempo por estar exercendo uma atividade para a qual psicologicamente não me adaptei e não suportei a pressão. Hoje estou exercendo outra atividade na mesma empresa e ainda em tratamento, mas me adaptando muito bem e contribuindo com o desenvolvimento da empresa. Obrigado Fabossi!
Sempre acreditei nisso. Ótimo texto.
Fabossi: Como sempre encontrando casos reais que ilustram muito bem realidades dos nossos dias. Parabéns!
O cara. muito boa tua palestra, desculpa ter
usado cara, mas Meu amigo, tuas palavras nestes minutos transformou a minha maneira de ser dentro deste mundo, e estou convencido de que preciso crescer com esta sabedoria, que TU, como o mestre no servir e ensinar. Muito obrigado mesmo. aquiles
Aquiles, tudo bem? Muito obrigado pelos comentários. Abraços, Marco Fabossi.